terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Guerra de abelhas por néctar tem até espiões e linguagem em código

MARCELO LEITE
da Folha de S.Paulo

Uma curiosidade muito conhecida sobre o mundo natural é a dança que algumas abelhas usam para comunicar às colegas de colméia onde encontrar uma nova fonte de néctar. O que pouca gente desconfia é que essa forma de código pode ter surgido para escapar de táticas bem menos elegantes, mas eficazes --espionagem e força bruta--, como indica estudo publicado hoje on-line na revista científica britânica "Proceedings of the Royal Society" (www.pubs.royalsoc.ac.uk).

O artigo, de autoria de um pesquisador dos EUA e três do Brasil, apresenta os resultados obtidos num experimento com duas espécies de abelhas sem ferrão na fazenda Aretuzina, de propriedade do biólogo e conservacionista Paulo Nogueira-Neto, em São Simão (285 km ao norte de São Paulo), mostrando que uma delas usa marcas de cheiro espalhadas pela outra para encontrar e lhe tomar a fonte de alimento.

Segundo uma hipótese formulada em 1999 por James Nieh, primeiro autor do artigo, a espionagem como a da Trigona spinipes contra a Melipona rufiventris representa forte incentivo para "inventar" uma forma de comunicação abstrata. Ela seria empregada no recesso da colméia, para passar o segredo alimentar adiante.

Os experimentos foram realizados em 2002 e 2003. Participaram, além de Nieh (Universidade da Califórnia em San Diego), Vera Lucia Imperatriz-Fonseca e Felipe Andrés León Contrera, da USP, e Lillian Barreto, da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola. Eles mostraram que as abelhas da espécie T. spinipes, ao saírem em busca de alimento, abandonam as marcas deixadas por suas companheiras quando encontram sinais específicos da M. rufiventris. Seguem a trilha da concorrente e, ao alcançar a fonte, atacam em grande número as inimigas.

Vale tudo, principalmente mordidas nas asas. Com sorte, a T. spinipes acerta a adversária na frágil junção da cabeça ao tórax, decapitando a M. rufiventris. As espiãs costumam vencer combates na base de ferocidade e quantidade.

A M. rufiventris tem comportamento oposto quando encontra marcas deixadas pela T. spinipes: vai procurar néctar noutra freguesia. Apesar de trazer um apoio forte para a teoria do código antiespionagem, o grupo não considera que ela esteja provada.

Ainda há muitos experimentos pela frente, diz Contrera, 29: "Precisamos conhecer os mecanismos que as espécies usam para comunicar às suas companheiras de ninho a localização e a qualidade de uma fonte alimentar. Se provado que as abelhas do gênero Melipona usam comunicação referencial e evitam assim uma espionagem, será uma indicação forte de que ela surgiu devido à pressão evolutiva da espionagem."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u11985.shtml

No response to “Guerra de abelhas por néctar tem até espiões e linguagem em código”

 
© 2009 Meliponário Alencar. All Rights Reserved | Powered by Blogger
Design by psdvibe | Bloggerized By LawnyDesignz Distribuído por Templates