sábado, 13 de março de 2010

Pequenas notáveis

O Brasil possui muitas espécies de abelhas nativas, também chamadas de indígenas, que exercem importante papel na fecundação de inúmeras espécies vegetais de nossa flora. Devido à grande extensão do território nacional, os nomes populares que lhes são dados variam de região para região. Assim, um mesmo nome muitas vezes designa abelhas diferentes

Por Naná Prado / Fotos Du Zuppani

Jataí, Irapuã, Mombuca, Moçabranca, Mandaçaia e Mirim são alguns exemplos de abelhas nativas que diferem da abelha Apis Mellifera, conhecida como a abelha do mel - trazida da Europa em 1839 pelo padre Antonio Carneiro, e que se espalhou pelos ecossistemas brasileiros em franca competição com as abelhas nativas. Conhecidas popularmente como abelhas sem ferrão, as nativas possuem ferrão atrofiado, e não conseguem utilizá-lo como forma de defesa. Algumas espécies são pouco agressivas, adaptam-se bem às colméias e ao manejo e produzem um mel saboroso e apreciado. Além do mel, podem fornecer, para exploração comercial, pólen, cerume, geoprópolis e os próprios favos de cera. Existem também outras formas de exploração sustentável como trabalhar questões de educação ambiental, turismo ecológico e ecopaisagismo.

No Brasil, são conhecidas mais de 400 espécies de abelhas sem ferrão que apresentam grande heterogeneidade na cor, tamanho, forma e população dos ninhos. Especialistas alegam que há escassez de informações biológicas e zootécnicas, pois muitas sequer foram identificadas.

Segundo Fábia Pereira, "devido a essa diversidade, é fundamental realizar pesquisas sobre comportamento e reprodução específicas para cada espécie; analisar e caracterizar os produtos fornecidos e estudar formas de conservação do mel que, por conter mais umidade do que o mel de Apis mellifera, pode fermentar com mais facilidade". A alta cotação do preço do mel das abelhas nativas no mercado, segundo Fábia, que em média varia de R$ 15,00 a 50,00 o litro, aliada ao baixo investimento inicial e à facilidade em manter essas abelhas próximas das residências, servem de estímulo para novos criadores.

No entanto, muitos produtores, em busca de enxames, acabam atuando como verdadeiros predadores, pois derrubam árvores para retirada das colônias e, nesse processo, muitas abelhas morrem devido à falta de cuidado durante o translado e ao manejo inadequado.

Outra causa da morte das colônias é a criação de espécies não adaptadas à sua região natural. É relativamente comum que produtores iniciantes das regiões Sul e Sudeste do Brasil queiram criar abelhas nativas adaptadas às regiões Norte e Nordeste, e vice-versa. A falta de adaptação dessas abelhas às condições ambientais da região em que são colocadas acaba por matar as colônias, o que contribui para sua extinção.

Doce e saudável

A criação de abelhas indígenas sem ferrão em cabaças, cortiços e caixas rústicas constitui uma atividade tradicional em quase todas as regiões do Brasil. Conhecida como meliponicultura, foi inicialmente desenvolvida pelos índios, e hoje, é praticada por pequenos e médios produtores.

O mel destas espécies contém os nutrientes básicos necessários à saúde, como açúcares, proteínas, vitaminas e gordura. Possui, também, uma elevada atividade antibacteriana e é tradicionalmente usado contra doenças pulmonares, resfriado, gripe, fraqueza e infecções de olhos em várias regiões do país. Waldemar Monteiro, conservacionista e membro do Departamento de Abelhas Indígenas da APACAME (Associação Paulista de Apicultores, Criadores de Abelhas Melificas Européias), afirma que para criar abelhas e mantê-las é preciso analisar as espécies de flores da região; anotar as épocas em que as floradas ocorrem, a presença de água potável e evitar correntes de ventos que possam prejudicar o vôo das abelhas. Árvores que produzem frutos grandes devem ser evitadas, tais como, mangueira, abacateiro, laranjeira e jaqueira. A queda deles poderá acarretar danos nas colméias.

Segundo Waldemar, muitas abelhas são bastante mansas e se protegem para defender seus ninhos, construindo-os em locais de difícil acesso, e se recolhendo quando incomodadas. "Algumas espécies de abelhas nativas constroem seus ninhos dentro de formigueiros ou próximo do ninho de abelhas bastante agressivas, obtendo assim proteção para suas colméias".

Fauna e flora em harmonia

As vantagens da criação e conservação das abelhas indígenas (nativas) não estão restritas ao mel e aos demais produtos de valor comercial. Elas exercem um papel importante na polinização das plantas. "Quando uma abelha penetra numa flor para sugar o néctar, os grãos de pólen aderem ao seu corpo e ao visitar, na seqüência, uma outra flor, o pólen colado no seu corpo é depositado no estigma, a parte feminina da segunda flor. Este processo, chamado polinização, é o que fertiliza a flor", explica a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fábia de Mello Pereira. Uma vez que não

possuem o ferrão, as abelhas nativas podem ser usadas com segurança na polinização de espécies vegetais cultivadas em ambiente fechado.

Algumas culturas, a exemplo do pimentão, necessitam que, durante a coleta de alimento, a abelha exerça movimentos vibratórios em cima da flor para liberação do pólen. Também existem espécies de orquídeas e bromélias que são polinizadas exclusivamente por abelhas da espécie euglossini que, geralmente, apresentam cores metálicas, tendendo para o verde ou roxo.

A extinção dessas espécies pode causar um problema ecológico de enormes proporções, uma vez que as mesmas são responsáveis, dependendo do bioma, pela polinização de 80 a 90% das plantas nativas no Brasil. Há, inclusive, muitos agricultores utilizando as abelhas sem ferrão na polinização de culturas agrícolas tais como urucum, chuchu, camu-camu, carambola, coco-da-bahia e manga.

Arquitetas naturais

O ninho é um espetáculo à parte de arquitetura e organização. As abelhas nativas estabelecem as suas colônias no oco de árvores ou em galerias cavadas no solo e utilizam misturas de cera, própolis e barro como material de construção. Algumas espécies constroem ninhos em forma de túnel, revestindo as paredes com folhas ou pétalas, formando um compartimento cilíndrico no interior do qual depositam o mel e pólen que servirá de alimento para as suas larvas, desde a postura do ovo até o nascimento do inseto.

Umas poucas espécies aceitam viver em colméias artificiais, que devem ser habilmente construídas para reproduzir as condições naturais a que o inseto está adaptado.

Peculiaridades e desafios científicos

• muitas espécies produzem um mel de excelente qualidade - alguns dos quais, inclusive, a crença popular atribui qualidades terapêuticas;

• a criação de abelhas sem ferrão é muito fácil até na cidade. A docilidade da maioria das espécies e seu comportamento fascinante as tornam um excelente material lúdico para os adultos e um instrumento de educação ambiental para as crianças;

• seu papel chave nos ecossistemas dificilmente é apreciado na sua plenitude. As abelhas campeiras, ao coletar o néctar e o pólen, visitam quase todo tipo de arbustos e árvores com flores, servindo assim de agentes polinizadores nas matas e plantações.

Fonte: http://www.beachco.com.br/default.asp?ACT=5&content=55&id=27&mnu=27


One response to “Pequenas notáveis”

Anônimo disse...

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